Mulher virtuosa, quem achara?
Mulher virtuosa, quem achara?Baal, Moloque e Sacrifício Infantil
E assim Jeú destruiu a Baal de Israel.” (2 Reis 10:28)
Para os padrões do século 21, o relato acima pode soar como intolerância religiosa. Especialmente quando lemos nas Escrituras uma aprovação do Eterno quanto à morte dos sacerdotes de Baal.
Para entender isso, porém, é preciso voltar no tempo e compreender o que era o culto a Baal, uma das religiões mais sanguinárias do antigo Oriente Médio.
A Bíblia Hebraica nos diz: “Porque edificaram os altos de Baal, para queimarem seus filhos no fogo em holocaustos a Baal; o que nunca lhes ordenei, nem falei, nem me veio ao pensamento.” (Jeremias 19:5)
A acusação é bastante grave: Jeremias acusa os israelitas de queimarem seus filhos em sacrifício a Baal, algo absolutamente horrendo.
O culto a Moloque, também entre os cananeus, é descrito de forma parecida: “E da tua descendência não darás nenhum para fazer passar pelo fogo perante Moloque; e não profanarás o nome de teu Senhor. Eu sou o ETERNO.” (Levítico 18:21)
Nem Baal nem Moloque são nomes próprios e sim títulos. Ba`al (בעל) no hebraico significa “senhor”, ao passo que Molekh (מלך) significa “rei”. Tão odiosos eram esses cultos que o nome completo das divindades sequer é mencionado!
Por causa disso, alguns acadêmicos entendem até mesmo que possam se tratar da mesma divindade (ou até divindades), ou variações sobre o mesmo culto.
Mas, existe comprovação histórica e arqueológica de que o culto a Baal fosse mesmo tão sanguinário? A resposta é afirmativa.
Primeiramente, é preciso ter em mente que os cananeus eram essencialmente fenícios:
“Em antigas inscrições egípcias a palavra “Kan’na” é aplicada especialmente à costa fenícia; às vezes, a toda a costa Mediterrânea.” (Emil G. Hirsch, Frants Buhl – Canaanites, The – Jewish Encyclopedia)
Há bastante informação histórica sobre o culto a Baal Hamon pelos habitantes fenícios da antiga cidade de Cártago.
O historiador Cleitarco (século 4 a.e.c.) assim descreveu o culto a Baal Hamon:
“Está no meio deles uma estátua de… [Baal Hamon]… com suas mãos estendidas sobre uma bacia de bronze, a chama das quais engole a criança.
Quando as chamas caem sobre o corpo, os membros contraídos e a boca aberta parecem quase que estar rindo até que o corpo contraído desliza silenciosamente para dentro do braseiro.”
Já Diódoro Sículo afirma que os fenícios de Cártago iam além disso, fazendo tráfego de crianças para alimentar seus sacrifícios:
“Nos tempos antigos eles estavam acostumados a sacrificar a esse deus [Baal Hamon] seus filhos mais nobres, mas mais recentemente, secretamente comprando e cuidando de crianças, as enviavam para esse sacrifício… eles selecionavam cerca de duzentas das crianças mais nobres e as sacrificavam publicamente; e outros que estavam sob suspeita sacrificavam a si mesmos voluntariamente, em número não menor do que trezentos.
Havia na cidade deles uma imagem de bronze de… [Baal Hamon]… com suas mãos estendidas com as palmas para cima e inclinadas para o chão, de modo que cada uma das crianças quando colocada nelas rolava e caía em uma espécie de fosso preenchido pelo fogo.”
Esses terríveis relatos históricos também são confirmados pela arqueologia. Ao lado, uma estela dedicada a Baal Hamon encontrada em Cártago – hoje parte do acervo do Bardo, museu nacional da Tunísia, mostra um sacerdote carregando uma criança, prestes a ser queimada viva no fogo à divindade.
Como se pode perceber, o combate a esse culto não era mero capricho nem tampouco intolerância religiosa, tratava-se de uma prática terrível, que precisava ser combatida com todas as forças.
E, mais uma vez, a História e a Arqueologia não apenas confirmam os registros da Bíblia Hebraica, como também nos possibilitam melhor compreendê-los.
Bibliografia
ATOUF, Elkbir. Carthage’s pantheon and cult. Le Mans Université. Disponível em: <https://hemed.univ-lemans.fr/cours2012/en/co/grain2_9.html>. Acesso em 16/08/2018.
MOSCA, Paul G. Child Sacrifice in Canaanite and Israelite Religion. Tese (Doutorado). Harvard, 1975, pág. 22.
SÍCULO, Diódoro. Trad. Russel M. Geer. The Library of History – Book XX. Cambridge: Harvard University Press, 1947.